A partir daqui só magia……
“..Quando os marinheiros portugueses primeiro se aventuraram nos mares ao largo da costa africana depararam-se com grandes aves brancas e negras, de asas pontiagudas.
Mais uma manhã fria, creio ao que me lembro de primavera.
Mais um ritual habitual que sempre executávamos mecanicamente em silencio.
São cerca das 6.00 da manhã e o Caranks entra mais uma vez na água.
Os três carregamos os equipamentos quase sequencialmente, o silencio é absoluto, só o mar bate, hoje pouco.
As gaivotas ainda dormem, à nossa volta centenas.
A saída do Porto da Barca (Zambujeira do Mar) é sempre complicada sem a maré cheia, rochas quase à superfície, roçam por vezes o casco, nunca aconteceu.
Rumamos a Sul, nem sei se já dissemos algo uns aos outros, tínhamos saído da toca cedo demais, mas era a maré.
O Yamaha de 30CV começa no seu ronco a fundo, cada vaga que saltamos é o mar em vida.
Chegamos à primeira zona onde vamos cair (mergulhar), paramos.
Os locais são-nos tão familiares que a precisão com que paramos neles é absoluta.
A calema embala, é uma daquelas sensações indescritíveis.
Não o querendo assustar não conseguimos largar o ferro da embarcação, tinha as enormes patas no cabo, ainda enrolado.
A luz da alvorada raiava por cima da falésia, 30 a metros mais acima.
E continuava mirando.
Tinha mais de 3 metros de envergadura e bem que nos dava pela cintura.
Combinamos não assustar o bicho, nem sequer sermos bruscos nos movimentos, ele poderia estar cansado…mas porque não amarou ?
Dos três, á vez, um ficaria no governo do bote, como companheiro tínhamos o nosso novo amigo.
Caçámos durante 6 horas em vários locais, sempre rumando a Sul.
Viu-nos todo o tempo com um olhar de quem tenta perceber o que fazíamos.
Era giro, quando tirávamos o peixe e o deitávamos na caixa olhava para a peça e quase que o percebiamos dizer……ahhh um Sargo…ahhh um Robalo !!
Percebemos mais tarde ao sairmos dali, já em direcção de novo ao Porto da Barca rumo a Norte, o porquê.
Mal sentiu a direcção mudar, abriu as asa e partiu rumo a Sul rasando o mar a escassos cêntimetros.
Antigamente era considerada uma ave de mau agouro, a encarnação de marinheiros afogados.
Era, por isso, considerado azarento matar um albatroz. Tal superstição não os protegeu das perseguições, pois muitos os capturavam para aliviar a monotonia das refeições nas longas viagens marítimas.