Depois de ter lido no
Luminescências sobre o lançamento do novo Oxygene de Jean Michel Jarre, comemorativo dos 30 anos da primeira versão deste trabalho (1976), lembrei-me de colocar um pouco de luz sobre como são obtidos os sons em Oxygene, bem como em outros trabalhos dentro do género.
Oxygene é uma referência na musica do final do Séc. XX.
Jarre direcionou-se numa abordagem ecológica na grande maioria dos seus trabalhos.
Oxygene 1-6, permitam-me, nasce numa altura do século em que a ciência começa a entender e a despertar para novos cuidados ecológicos - veja-se a capa de
Michel Granger ele próprio um ecológico nato (o seu tabalho Terre é demonstrativo).
A Terra está morta!
Mais tarde em 1997, Oxygene 7-13 demonstra uma consciêncialização total do Homem na protecção do planeta, tendo-o como seu coração.
Mensagens á parte, o que pretendo é abordar a técnica, nomeadamente a instrumentação usada em ambas as gravações.
Jarre é um pioneiro no som sintetizado, como instrumentista.
A par de outros músicos do início da década de 70, utilizou a manipulação total de timbres para atingir sons diferentes dos á data conhecidos.
Lembro de ouvir o seu primeiro trabalho editado em LP - Oxygene - e atentar nos nomes de instrumentos, Synthesizers.
Claro que naquele tempo não era fácil chegarmos a uma perfeita visualização de tudo isto, tal era a diferença da música que com dificuldade se imaginaria o instrumento.
Com 14 anos, na altura, não estava propriamente a dar os primeiros passos nestes novos sons, tinha já a iniciação de Heaven and Hell e Albedo 0.39, de Vangelis, onde se fazia referência aos tais Synthesizers.
Mas Jarre decomponha-os :
A.R.P.Synthesizer,
A.K.S. Synthesizer,
V.C.S.3 Synthesizer, R.M.I.Harmonic Synthesizer e muito mais... uma ficha técnica brilhante para a altura.
A primeira vez que vi e pude tocar em sintetizador, mais ou menos por estas alturas e perceber um pouco da fisionomia e técnica destes equipamentos foi uma bela tarde inesquecivél no Custódio Cardoso Pereira no teclado de um
Crumar.
Disto recordo que toda a gente que se encontrava dentro da loja, ficou colada ao cordão vermelho, que a separava da zona de exposição.
Fui convidado a voltar e demonstrar o aparelho....fiquei alguns dias sem dormir só de pensar.
Estava traçado o meu destino e objectivo na vida: Criar música electrónica!
Adiante... Os sintetizadores de Jarre e todos os outros claro, têm uma base de trabalho comum: O Oscilador (e as formas de onda para o oscilador), o Filtro e o Amplificador, ( tudo isto dependendo do aparelho pode ser dito no plural).
Partindo de um timbre instrumental (nem sempre) poderemos traçar vários percursos para o som dentro do sintetizador, fazendo-o percorrer um conjunto de áreas electrónicas que modificam o som de base, até ele sair no sistema de pré-amplificação e ser audível.
O principal manipulador da onda do som (ainda em sinal eléctrico), está na área dos osciladores e muda a frequência do som.
O Oscilador ou gerador de ondas( tipo de onda eléctrica, serra, quadrada, sinosoidal..etc.) é o componente que, em princípio, gera um som único, contínuo, invariável, numa só altura, intensidade e timbre.
Quando accionado pelo teclado, o oscilador emite o instrumento de acordo com a altura da nota tocada no teclado.
Não querendo ser muito técnico, um dos fundamentais componentes de um sintetizador é ainda o Filtro.
Para moldarmos o timbre emitido pelo oscilador, vamos manipular um filtro de freqüências.
O som que sai do oscilador, qualquer que seja a forma de onda escolhida, costuma ser estridente, repleto de harmônicos.
Essas freqüências precisam de ser filtradas, até alcançarmos o timbre desejado.
O Filtro corta certas frequências do som e deixa passar outras.
O ponto de corte ou cutoff, que é a fronteira entre os sons que são cortados e os que permanecem, é móvel nos sintetizadores.
Isto permite que o músico defina, por exemplo, quais harmônicos de um som serão ouvidos.
O som do oscilador, quando passa pelo Filtro, é radicalmente alterado, pois muitos dos seus harmônicos estão a ser cortados.
O timbre muda fantásticamente ao movermos o controle do ponto de cutoff.
Não chateio mais com técnica.....haveria páginas e páginas a dizer...
A magia do som de Jarre está, a meu ver e isto é uma apreciação pessoal, nas colagens, método que também uso nas minhas composições.
Tentem aperceber-se por exemplo de dois sons próximos no tipo de timbre a deslocarem-se em R e em L ( esquerda e direita da audição) mas em que um deles a determinado momento é modificado pelo Filtro (altera-se...tipo rasgo), parece-nos que há uma abertura imensa na capacidade de destrinçar os sons ( eles quase não se distinguiam entre si, agora desdobram-se), é um efeito muito praticado por quem faz música electrónica.
A parte repetitiva das músicas de Jarre é feita por equipamentos designados de sequenciadores, hoje todos os sintetizadores incorporam em si esta área.
Trata-se de "desenhar" pelos vários compassos da música uma diversificação de notas que têm uma progressão variada ao longo da composição. ( Um bom exemplo é a passagem de Oxygene part I para a part II).
Por vezes o "andamento" de um sequênciador vai completar a linha melódica de outro, com sons diferentes - provocando uma "salada" de música.
Jarre não só utilizou muito bem a capacidade da mistura dos sons sintetizados e as suas mágicas colagens, bem como a capacidade na altura da mistura de audio. Foi em 8 pistas. Hoje em ambas as técnicas a possibilidade é infinita.
Oxygene 1-6 em si é um curso total de musica electrónica:
" Obrigada Mestre, tive gosto em te ouvir milhares de vezes, de cada vez descubro coisas novas !"
Está já na rua. Vou a correr comprar!!!
Entrevista a Jean Michel Jarre sobre Oxygene 2007
Mago da Lua