terça-feira, 8 de janeiro de 2008

"..Lus e Dias.."

Velho sou eu, que já Lá não posso andar.
Este vicio que o sal trás
e as canções que Ele nos canta,
são por vezes tão distantes
que ecoam por ondas gigantes.
Para melodia é bastante, para medo que mais venham.

(Jos, hoje , chamo-lhe Ele o Mar)



Ó doce e amado esposo,
Sem quem não quis Amor que viver possa,
Por que is aventurar ao mar iroso
Essa vida que é minha, e não é vossa?
Como por um caminho duvidoso
Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Nosso amor, nosso vão contentamento
Quereis que com as velas leve o vento?

L.V.Camões in Lusiadas canto IV


Aqui na terra a fome continua
A miséria e o luto
A miséria e o luto e outra vez a fome
Acendemos cigarros em fogos de napalm
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti nem eu sei que desejos
De mais alto que nós, de melhor e mais puro.
No jornal soletramos de olhos tensos
Maravilhas de espaço e de vertigem.
Salgados oceanos que circundam
Ilhas mortas de sede onde não chove.
Mas a terra, astronauta, é boa mesa
(E as bombas de napalm são brinquedos)
Onde come brincando só a fome
Só a fome, astronauta, só a fome.

José Saramago in Poemas Possíveis (1966)

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa in Mensagem (1934)

(Aos que partem para o mar)
Gravuras : A Armada de Crabal, 2ª Exp.India , e a de Vasco da Gama 1ª Exp. India)
Mago da Lua

2 comentários:

Anónimo disse...

Se a blogosfera estivesse assim, como seria bem melhor navegar...
Bela honemagem, gostei.
Abraço

Alma Nova ® disse...

Mar! Esse eterno desconhecido, tão próximo e tão longínquo, tão temido e tão amado, tão calmo e tão enfurecido...mas onde sempre tão serenamente podemos repousar o olhar e refrescar a alma!
Um abraço.

 
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