Exorcismos

Ao emprestar a um amigo o meu CD de “ A Criação “, relembrei, já a caminho de casa ouvindo no carro esta maravilhosa obra, a capacidade de exorcizar que a musica pode ter.
“..nunca me senti tão religioso, como durante o tempo em que compus a Criação, a cada dia que passava, eu caía de joelhos, e rezava para que Deus me desse força de conseguir levar esta obra até ao fim…”
A estreia, para o grande público, teve lugar a 19 de Março de 1799, no Burgtheater de Viena, tendo a orquestra sido dirigida pelo próprio Joseph Haydn.
No final do concerto largamente ovacionado, Beethoven cumprimenta o seu velho mestre beijando-lhe as mãos de joelhos…. eu só de pensar neste momento do Homem, choro.

Para Beethoven foi importante a inovação trazida por Haydn nos oratórios, esta obra antecipa, em alguns trechos, a grande “Missa Solemnis”..
Haydn iniciou-se na maçonaria por Leopold Mozart, tornado-se grande amigo do seu
filho, que chega a influenciar as missas de Haydn, da última fase.

Para quem já assistiu a esta obra ao vivo, sabe que é de uma imponência vocal, eu diria celestial.
Haydn é o iniciador de uma nova fase na história da música. Com a sua obra desenvolve-se uma nova polifonia instrumental, sem o apoio harmónico do baixo contínuo.

Muitas foram as vezes, e deixo aqui um pedido de desculpas aos meus vizinhos, que completamente fechado e às escuras na minha sala, ribombaram o Caos e o Paraíso da Criação.

A mais intensa das dores, contra a mais intensa das obras, será talvez a pura devoção à capacidade de criação do próprio Homem, e não como Haydn a Deus, sinto que esta forma de exorcizar me resulta.
O certo, é que nos piores momentos me refugio nos maiores génios, não só musicais.
Será o meu Deus o Homem ?.......acho que não faria uma boa opção, por isso penso que são antes os homens, o que me torna politeísta, já não tão agnóstico como eu pensava.



Mago da Lua